sábado, 5 de julho de 2008

Entraram vinte e dois, saíram dezenove. No Bahia X Avaí, nada disso fez diferença

Em Feira de Santana, na 9º rodada da 2º divisão, Bahia vence e derruba o último invicto

Ninguém aprende inglês conversando com alguém que também não saiba. Repetindo os mesmos erros, são capazes até de descobrirem uma nova gramática. Num jogo de segunda divisão do campeonato brasileiro o esquema é o mesmo. As equipes, tão limitadas, se ofuscam no breu técnico em campo. Ninguém força ninguém em nenhuma jogada. Toda a partida acontece num marasmo, sem habilidade, sem finta. Só na base da vontade, da correria, e das faltas. Muitas faltas. Foi mais ou menos assim a nada brilhante partida entre Bahia e Avaí, pela 9º rodada do brasileiro da 2º divisão.

Aos três minutos, a bola rolava mansa para o goleiro avaiano, Eduardo Martini. Quando sem explicação, o zagueiro Ozéia resolveu chutar a pelota pela linha lateral. Os dois tiveram um breve desentendimento e o defensor achou por bem terminar a discussão com um empurrão no seu próprio goleiro. Fiquei imaginando como um cara daquele poderia ser titular numa equipe profissional. Pouco tempo depois, o mesmo zagueiro fez uma falta e levou amarelo. Aos vinte e nove minutos, ainda na primeira etapa, se envolveu em outra confusão (dessa vez com o adversário) e foi expulso. Foi quando a televisão mostrou o volante Cocito se aquecendo. Nesse momento entendi porque o zagueiro era o titular. A semelhança entre Cocito e coice não deve ser mera coincidência. Cocito foi titular do Atlético Paranaense vice-campeão da Libertadores, em 2005. Perderam para o São Paulo. Para entender a fama do jogador é mais fácil perguntar aos atletas que tiveram tatuadas em sua canelas, as travas da chuteira do volante. Bem, hoje Cocito é reserva do Avaí. E ele acabou não entrando em campo.

No segundo tempo, outro jogador avaiano, o meia Marquinhos, também recebeu o segundo amarelo e foi expulso. Ele foi punido por puxar o cabelo do adversário. Sua explicação ao sair do campo. “Eu o puxei. Acabei puxando o cabelo. Nunca vi puxão de cabelo ser agressão.” O meia nunca deve ter visto briga de mulher. Para não dizer que o (péssimo) árbitro foi tendencioso, o volante Fausto, do Bahia, também fez por merecer o segundo amarelo, e, ser devidamente convidado a se retirar de campo. O nível técnico era tal que mais um, menos três dava no mesmo. Não havia trabalho de equipe. Quem fazia o jogo eram os pequenos lampejos de um ou dois jogadores.

Interditado desde o acidente na final da terceira divisão, que levou o Bahia de volta a divisão de acesso nacional, o Fonte Nova não pode ser utilizado. Na ocasião, a arquibancada cedeu matando sete torcedores. Depois de Camaçari, foi a vez de Feira de Santana, a “princesa do sertão”, receber o privilégio de abrigar a equipe baiana. 3.360 pagantes prestigiaram o certame. No estádio Jóia da Princesa, onde a bola rolava limpa como nas areias da praia, a equipe anfitriã derrubou a invencibilidade do Avaí. 2x1. De virada. O Avaí marcou numa cobrança de falta do meia Marquinhos, o volante Marcos Vinícius escorou e abriu o marcador, aos cinco minutos de partida. 0x1. Ainda no primeiro tempo, depois de pressionar bastante, o Bahia chegou ao merecido empate, após um rebote, nos pés do atacante Galvão. 1x1 O jogo diminui de ritmo. Na segunda etapa, aos três minutos, o volante Emerson chutou fraco e fechou o placar. 2x1 Bahia

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Se testando em novos palcos, “Comédia em pé” tem tudo para ser o Cats carioca.

Tal como Einstein, peça mostra que o humor também é relativo, depende do público.

Fazer humor, ao contrário do que alguns possam imaginar, não é fácil. É bem difícil, aliás. Isto porque, não existe uma lei que determine o que é engraçado e o que não é. Tudo depende de quem vê, lê ou ouve. Se for um programa de tv, quem não gosta muda o canal. Se for um livro, não lê. E se for uma peça de teatro? Não ri. Pronto, acabou a diversão para todo mundo. O riso é contagiante. Não são, sem razão, as risadas enlatadas em seriados. Aquilo acaba funcionando. Inconsciente, nós acabamos aceitando que a piada é engraçada. E, voltando ao teatro, se a pessoa não ri, por analogia, nós aceitamos que a piada não é engraçada. Mesmo que pensemos o contrário. “Comédia em pé” agora em cartaz, também, no Teatro Miguel Fallabela, no Norte Shopping, testa seu humor a cada apresentação. E, às vezes, pode ser que acabe perdendo.

A proposta do Comédia é bem simples. Falar sobre o cotidiano de forma engraçada. Só que ao contrário de uma peça de humor, ela é uma apresentação de piadas. Pelo menos a forma mais próxima de definir o espetáculo é como um conto de piadas. E se as pessoas não riem, a animação cai. Porque não tem uma encenação para continuar seu enredo, independente de tudo e todos que estão assistindo. O que tem é um cara que dialoga com o público e se este público não responde, não tem conversa. Acaba o assunto. E, em casa nova, com menos de 20% da lotação, o Comédia caiu. Não que não fosse engraçado. Mas ouvindo o eco das poucas pessoas, o vazio se fazia mais presente. O que é engraçado fica meia-boca. O que não é muito divertido fica sem graça. A peça pede público, ela necessita disso. Pode ser que num futuro, não tão distante, quando não estiver muito cheio, eles coloquem umas risadas prontas no fundo.

No palco, Cláudio Torres Gonzaga faz o papel do mediador do encontro. Talvez por ser o mais engraçado de todos. O que menos precise de recursos corpóreos e piadas de anatomia para arrancar algumas risadas. Fábio Porchat é bem histriônico, mas faz o seu papel. Fernando Caruso é econômico, mas bom. E Paulo Carvalho é o amigo dos três. Sabe o amigo. Então é o amigo. O quarteto sempre recebe um convidado. Quanto ao convidado, isso depende da noite que você for. Mas por via das dúvidas é melhor conferir no site da trupe para saber sobre quem vai. Aproveite a internet e imprima o panfleto que faz a peça custar mais barato que meia-entrada ($18). Se preferir, ir na quinta ou sexta-feira no Norte Shopping, neste caso a meia é mais econômica ($15).

A comédia em pé, o stand-up comedy, tem tudo para pegar no Brasil. É um formato simples de se construir, barato, que depende apenas do talento individual do apresentador. E contar piada é um dom que muito brasileiro tem. Não gosto muito dessas máximas alemão é assim, argentino é assado. Mas, há de se convir que brasileiro sabe rir da própia cara. Da própia miséria, da própia besteira. E o interessante da comédia em pé, como eles mesmos assumem no início, é quem não tem nada disso. Não acrescenta nada é puro besteirol. Talvez por isso seja tão engraçado. E de tão certo. Desde de que com o público adequado.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

“Le Fin de Terres”, da cia. Philippe Genty, é um colírio aos olhos

Peça da 6º FIL é uma das inúmeras atrações voltadas ao público infantil.

Dar uma chance à revitalização do centro da cidade pode ser o início de um excelente programa. Dentro da programação do 6º Festival Intercâmbio de Linguagens, voltado ao público infantil, vários teatros da região central do Rio de Janeiro foram escalados para a encenação das peças. O Centro Cultural Banco do Brasil, o Caixa Cultural e o João Caetano. No fim-de-semana de estréia, o grande destaque foi a montagem de “Le Fin de Terres”, pela companhia francesa Philippe Genty, no centenário palco da Praça Tiradentes. Mais do que destaque da estréia, a peça tem tudo para ser a grande atração do festival.

Ainda antes do início, na rua, centenas das pessoas que aguardavam para entrar no teatro acompanhavam o ensaio de uma companhia de dança num casarão perto. Ao lado do João Caetano, de frente para o Real Gabinete Português de Literatura, no Centro Cultural Carioca, a companhia ensaiava um samba. A princípio, o espetáculo “Bota a Baixo”, tem estréia prevista para nove de agosto. Passados meia-hora, o povo toma rumo ao evento principal da noite.

Sem o recurso do diálogo, através da exploração de um universo de cores, luzes, bonecos e mágica, o espetáculo é rico, dinâmico e inteligente. Apesar de voltado a crianças, não haverá adultos que resistiram aos encantos da encenação. Desde 1968, quando criou a companhia, Philippe Genty vem aprimorando a técnica da trupe no exercício da imaginação infantil. O veterano ator traz ao palco mais seis camaradas, além de três técnicos responsáveis pelas complexas transições no espetáculo. Desde o primeiro minuto, o público é convidado a uma série de trocas entre personagens e atores, e de bonecos e atores. De modo que não se sabe onde um saiu para a entrada do outro. A magia é tão intensa que por vezes se esquece que se está num teatro. Mais do que os efeitos do cinema, a peça leva o espectador a uma outra dimensão sensorial. “Le Fin de Terres” é dessas apresentações que elevam o teatro a um outro patamar.

A luz intelectual provedora da peça se deve ao próprio Philippe Genty e a Emmanuel Laborde. Ambos mostram uma sintonia única na concepção visual do belíssimo espetáculo. Um contraste de luzes com objetos e atores fascinantes. Não menos especial é a música criada por Serge Houppin e Henry Torgue. Se não há falas durante a encenação, a lógica se constrói muito graças à genialidade musical. Que cai como uma luva às esquetes do roteiro. A sintonia tanto das luzes quanto da música com o desenrolar no palco faz a diferença para construção desse grande espetáculo.
A peça que esse ano se apresentou na Áustria e na Itália, no Brasil visita, além do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Londrina e Florianópolis. E deve passar pela Austrália no fim do ano. Pela 6º FIL, são esperadas outras atrações internacionais. Além de Philippe Genty, estão programadas companhias da Alemanha, Israel, Bélgica, e outra francesa. Alguns espetáculos serão casados com grupos teatrais brasileiros, e serão apresentados como “Work In Progress”(ainda em desenvolvimento). Bom divertimento

terça-feira, 1 de julho de 2008

Artigo: O samba do flamenguista confuso

Sou rubro-negro há vinte e um anos. O que pode parecer pouco à velha geração. Mas, insisto, é tempo suficiente para saber como as coisas funcionam por essas bandas. E nesse tempo, é fácil perceber a alegria inata e inocente do torcedor do Flamengo. Cada vitória é comemorada como um título, ao passo que cada derrota é chorada como o fim do mundo. É um terreno de extremos, de difícil compreensão aos não-iniciados nessa arte de ser um torcedor de futebol. Os três pontos num fim-de-semana podem, na cabeça no rubro-negro, significar que o seu time é melhor do que a própia seleção brasileira. Isso pode até soar exagerado, mas é apenas o que o pequeno sussurro diz ao pé do ouvido do torcedor. Nesse embalo, qualquer vitória é o pontapé inicial para algo maior. Na mente do flamenguista, esse algo maior sempre é e será Tóquio. A conquista do mundial de 1981 permanece viva na memória de quem viveu ou não aquele momento. E como se não houvesse passado, presente ou futuro. E como se o Flamengo, a partir daquela conquista, fosse eternamente o campeão do mundo. A simples vitória do fim de semana, seja contra o Olaria, o Figueirense ou o São Paulo, fosse o passo inicial para confirmar a máxima do domínio do mundo pelo rubro-negro. Tóquio é a representação da vontade de poder do flamenguista.

Como já repetimos, “Rumo a Tóquio”, ao final de cada partida vitoriosa no Maracanã. E nesse meu curto tempo, nunca vi o Flamengo tão embalado como em 2007. Foi a melhor participação do time num campeonato brasileiro desde a última conquista nacional em 1992. Estávamos na zona de rebaixamento, e num instante, com a torcida lotando o maraca, pulamos para terceiro. Só não fomos campeões por que não deu tempo. O próprio presidente Márcio Braga disse isso. Ah se a nossa reação tivesse começado algumas rodadas mais cedo. Ainda assim, fomos para a Libertadores. Mais uma vez iríamos disputar a maior competição do continente. Uma das maiores do mundo. Para o flamenguista, um mero estágio antes da consagração máxima no Japão. Em 2008, tudo ia bem. Campeão estadual. A primeira fase da Libertadores no papo. Até que o Brasil assistiu ao maior e mais doloroso maracanazo. Fomos eliminados da Libertadores. Mas não foi uma derrota qualquer. Tínhamos ganhado na quarta-feira, no México, do time deles por 4x2. Abrimos dois gols de vantagem. No domingo, batemos o Botafogo e conquistamos o Estadual. Aquela quarta a noite era de festa. Nosso técnico, o da arrancada do Brasileiro, do título do Estadual, da Libertadores, estava se despedindo, iria para a África do Sul comandar a seleção anfitriã da Copa do Mundo de 2010. Aquela quarta seria de festa. O outro time, último colocado do campeonato mexicano, com dois gols de desvantagem, não seria adversário para o Flamengo. E não foi. O Flamengo dominou toda a ação da partida. Eles só subiram ao ataque três vezes. O Flamengo não conseguiu fazer nenhum gol. Eles conseguiram fazer três. Fomos eliminados.

Desde o dia sete de maio, o Rio vive de luto. O Flamengo tem um número considerável de torcedores para por a cidade de luto. A derrota era ainda maior ao ver os outros times da cidade indo bem em suas competições paralelas. Os rubro-negros ainda assistiram a Vasco e Botafogo chegarem as semifinais da Copa do Brasil. Era a possibilidade de uma final carioca, e a certeza de um rival na Libertadores. Da onde o nosso time havia sido defenestrado. Felizmente, ambos foram eliminados pelo Sport e Corinthians, respectivamente. Mas, o inferno ainda não tinha acabado. Desde 1985, dois times cariocas não participavam da Libertadores. Na época, ambos caíram na primeira fase. Agora, não. Nós havíamos ido até as oitavas. Mas, o Fluminense continuava, contra tudo e contra todos. Eles estavam na final. Era o pequeno e insignificante time, com um mísero título brasileiro (nós temos cinco) querendo igualar nossa maior marca. Eles também queriam Tóquio. Era o inferno sem fim do flamenguista.

O pequeno detalhe. O Flamengo vive o seu melhor momento na história recente do campeonato brasileiro. Dos últimos vinte anos, no mínimo. Ele é, após oito rodadas, líder isolado, com o maior número de vitórias, o melhor ataque, o melhor saldo de gols. Ainda tem o vice-artilheiro, coisa rara por aqui. Motivo mais do que suficiente para todos gritarmos: “Rumo a Tóquio”. Mas a cidade está de luto. Não há uma única camisa do time pelas ruas. Ninguém tem coragem de comemorar o melhor campeonato da equipe. O Flamengo está enterrado sobre seu orgulho. Enquanto a dor de acompanhar o rival chegar cada vez mais longe no campeonato que era para ser seu, o rubro-negro não terá motivos para sorrir. A torcida leva para a arquibancada a faixa: “Brasileiro é obrigação”. Nos somos lideres. A obrigação está sendo comprida. Mas o que é obrigação não se comemora, não se parabeniza. O Flamengo está crescendo está se impondo a vencer. O Flamengo que é maior do que tudo, chegou ao patamar máximo de sua grandeza. Não comemora mais vitórias. E como se tudo, a partir de agora, fosse tão normal que não é digno de se comemorado. O Flamengo morreu para os flamenguistas. Morreu até o momento em que o tão insignificante rival que há pouco tempo estava na última divisão do brasileiro, na Série C, morra, definitivamente, para o futebol. Em cada garganta rubro-negra rasga, ainda que sem jeito, o grito: Vamos LDU!