sexta-feira, 27 de junho de 2008

Dois andares de arte no Centro Cultural Justiça Federal

Por descuido e ignorância, vimos apenas três das quatro mostras em cartaz.

De passagem, a espera do início de um espetáculo teatral, circulei pelas salas e corredores do Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), atrás das exposições em cartaz. Pude contemplar três mostras (1) Reciclando o Olhar, de Sergio César; (2) 58: Meio Século de Glória, com a curadoria de Fernando Maia; e, (3) Destaques do fotojornalismo internacional – As melhores fotografias do Festival Scoop d’Angers, com o melhor dos últimos 20 anos do festival francês. Infelizmente, não percebi no último andar, a exposição Cavalo de Santo, da fotógrafa Mirian Fichtner, sobre o batuque e a umbanda no Rio Grande do Sul.

Sergio César é um artista plástico de origem humilde, filho de gente do povo, que teve que fazer um esforço maior para poder se fazer visível num mundo tão elitisado quanto o da arte. Mas, felizmente, não é isso que qualifica o seu trabalho. No hall do prédio do CCJF, está a primeira das 25 maquetes que compõem a mostra Reciclando o Olhar. A obra de abertura é uma secção de 6m2 do original de 64m2 montado para a abertura da novela da Rede Globo, Duas Caras. Todas as peças são representações de habitações populares cariocas. Universo tão bem dominado por Sergio. O artista faz do papelão, do lixo, a sua arte. As maquetes surpreendem pela riqueza de detalhes e referências culturais. As obras contam com iluminação própria, se apresentam vivas aos olhos do espectador. Sem soar piegas, Sergio recicla a cidade ao representar seu lado marginalizado em ornamentos tão bem requintados com o lixo.

Duas mostras dividem o primeiro andar do prédio. Em 58: meio século de glória, através do material da Agência O Globo, o curador, o fotógrafo Fernando Maia, tenta recriar as emoções, cinqüenta anos depois, da conquista da nossa primeira Copa do Mundo, em 1958, na Suécia. A idéia de retomar as glórias da vitória está presente por todos os lados do cotidiano; na tv aberta e fechada, nos jornais, nas revistas, e, até, no cinema. A mostra, por sua vez, não acrescenta nada de novo. Vale o registro das 43 imagens expostas, mas reina uma certa desorganização na disposição da material. Como em uma das salas, onde são projetadas fotos do torneio junto ao áudio da narração de um jogo da seleção brasileira. O espectador não sabe nada sobre as fotos, nem sobre o jogo narrado. Sem somar ao já relatado sobre o campeonato, e aliado as confusões na organização do material, a mostra ainda vale como registro num país que tende a ter memória curta, mas não rende como material de valor histórico.

Ao seu lado a mostra Destaques do fotojornalismo internacional – As melhores fotografias do Festival Scoop d’Angers, traz as melhores fotos do festival francês nas últimas duas décadas. A exposição não tem a qualidade que se imagina para uma retrospectiva fotográfica. Nas mais de cem fotos exibidas, somente cerca de trinta guardam um valor digno do registro. No mais são explorações da pobreza, da miséria, e dos horrores da violência. São registros fortes, mas “fáceis”. Não guardam a magia do saber olhar na torre de babel globalizada. Passou o tempo, o teatro começou. Ficou a arte do Sergio César. A lembrança da Copa de 58. E, o vazio sobre o festival de fotos.

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