No afã do alarde a banalidade da guerra, texto acaba caindo na crítica barata.
A idéia me parecia difícil para um peça de teatro. Um grupo de oficiais recebe uma ordem para executar um líder do Oriente Médio. Soa mais como um filme hollywoodiano. Mas, com uma boa direção e técnica apurada, Os Especialistas, em cartaz, no Centro Cultural Justiça Federal, consegue “romper” esse preconceito com o teatro para encenar um bom thriller. Com o texto do americano Adriano Shaplin e direção de Bárbara Bruno, o espetáculo, com altos e baixos, é uma feliz montagem para a dramaturgia política.
Escrita no começo da guerra do Iraque, em 2004, ainda sob a sombra do 11 de Setembro, a peça trabalha o modelo belicista (quase que) sistêmico norte-americano. No espetáculo, cada ator incorpora um caráter do soldado americano. O entusiasta-patriótico, o robô-obediente, o defensor da ética, e o capitão-que-age-por-de-trás-dos-panos. Essa ciranda é perfeita para o texto, as vezes irônico as vezes bobo, mas sempre espinhoso de Shaplin. Ao sair do teatro, fica-se com uma impressão mista da boa peça, mas que poderia ser mais trabalhada. Ser piegas é o pior que pode acontecer num texto deste nível. Shaplin não chega a escorregar tanto, contudo mostra que precisa ser mais lapidado para alcançar um patamar de irrefutabilidade. Onde a crítica se sustenta por sua maturidade e coerência.
No palco, os quatro atores mostram sintonia. Em alguns momentos, entretanto, ocorreram deslizes de atuação, mas não chegaram a comprometer o resultado da peça. A direção e a técnica são boas. Destaque para a atuação de Augusto Zacchi, na pele do inquieto tenente Freud. Taciana Barros (tenente Stein), Vinícius Vommaro (tenente Studdard) e Gustavo Rodrigues (coronel Rodrigues) vestem bem os personagens que lhes cabem. De toda a equipe, entretanto, Zacchi é o único que consegue acrescentar ao texto do espetáculo. Ele dá vida extra a encenação. Bárbara Bruno, filha de Nicette Bruno, conduz com segurança a peça de uma hora e vinte minutos. Ponto para a ótima encenação de uma cena de sexo entre os tenentes Stein e Freud. Sem vulgaridade, os atores passam a mensagem (ainda que desnecessária) com a riqueza que lhe é pertinente. A encenação foge (felizmente) ao censo comum da dramaturgia brasileira onde cena de sexo exige dois atores nus levando as últimas conseqüências seus atos diante uma platéia ninfomaníaca ou perplexa pelo exagero das ações.
Em Os especialistas, o final compromete. Todo o trabalho encenado ao longo da peça parece apressadamente finalizado. A necessidade de Adriano Shaplin de criticar o modelo americano acaba levando-o a uma precipitação, um deslize no enredo, um encerramento desnecessário. Por vezes, a certeza da certeza gera um “tapeamento”. O autor se sente tão convicto de sua teoria que leva a encenação a patamares (quase) inconcebíveis da atuação norte-americana num conflito. Ainda assim, por ser bem apresentada, convence (muitos) espectadores das rotinas apresentadas no palco. Os Especialistas é um bom programa, num ponto que sabe valorizar a cultura (CCJF) e, melhor, com um bom preço (R$20 / 10 a meia).
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